Hipopótamos #4

Plaz Mendes
5 min readMar 12, 2018

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Karakter

Uma breve historia do meu pai.

Aqui despejo aquilo que descobri com suor, chantagens, bebedeiras, coisas largadas sem importância e suposições de uma mente louca demais. Seu Roberto tinha pouca idade quando conheceu minha mãe no colegial. Primeiro beijo, namorada, a primeira relação amorosa, faculdade igual, o único filho. A turma deles.

Meu pai.

Minha mãe.

O pai de Alberto chamado Alex, faculdade de administração.

Isabel vivia procurando a salvação e não perdia tempo com festas, cervas, bolos e sexo sem camisinha.

Por isso sua cara carrancuda quando alguém insiste em lembrar o seu passado.

Ela odeia nostalgia.

E nunca viu com bons olhos uma universidade cheia de maconheiros.

Roberto atraiu Roxana, a garota mais gostosa, com horas de biblioteca quando a mesma o convidou-o para ensinar cálculos. Roxy escrevia pequenos poemas de pouco valor. Ao que tudo indica gostava de Olavo Bilac.

Roberto fã de ficção, fofocas, astronomia e um pouco de mantra.

Prova final, mamãe com temor de perder o período.

Noite, quarto, os dois e blá, blá, blá.

Nasci.

Todavia.

A verdade é outra, ponderei um pouco se fazia diferença, contudo depois de um pouco de coca cheguei à conclusão que certas coisas devem ser bem claras.

Meu pai na época do campus mantinha como amigos poucos que o chamavam de Rolinho. Com os moleques da rua nunca ia além de umas pancadas e desculpas por machucar o fracote que gostava de ter um diário.

Sempre longe;

Das mulheres.

Revistas masculinas com peitos enormes pra fora.

Buracos nos banheiros femininos.

Vera Fischer.

Uma passagem do seu livrinho secreto.

“Uma mulher linda não pode ser uma boa atriz ela representa tão bem isso que o povo já a aceitou ninguém quer vê-la subir no palco para ganhar prêmio, mas todos querem vê-la nua.”

Meu pai é gay.

Homossexual.

Não importa o nome.

Ele é meu pai?

Viajo numa ideia de que minha mãe ficou grávida de outro e para ajudar sua amiga cuja família exercia linha dura do exército.

Casamento de fachada.

Pai de mentira.

Pseudo-homem.

Coitado hoje em dia parece arrependido com um rosto fatigado de tanto plantão no hospital. Um cara legal comigo, visitas, amigos, porém nunca se importou realmente com o que ocorria em casa, com sua mulher. Roxana deve sonhar todo dia com uma chuva de pintos.

Sua ausência na cama.

Na casa.

Na minha vida toda pode explicar o comportamento às vezes insano.

O sangramento no nariz.

O desejo de morte.

Vocês decidam.

Afinal filhinho de peixinho o tubarão come tudo.

American Beauty

18:05

Com muito sono espero Karol na saída do colégio com nome de algum militar esquecido, por sinal todo o prédio foi abandonado pelos políticos. As meninas com suas saias/fetiche rindo, todas parecem iguais.

Uniforme.

Fugir da rotina.

No meu despertar sou mandando buscá-la entre o análogo sexy.

Não Karol.

O seu cabelo vermelho dá um toque cult para sua pele branca e lindas ameixas azuis. Corpo exuberante.

Segundo grau ainda.

Apaixonei-me por uma idiota gostosa reflito lendo Schopenhauer que diz “a desgraça é a regra geral”

Imagino a vida de Karol, tola, boa, pobre, namorando Alberto que a adora por causa do seu grande traseiro.

Conheço-a do tempo de crianças.

Vizinhos.

Morava com uma senhora, que morreria antes do casamento da neta.

Salada mista.

Paixão a primeira piscina pública.

Alberto é filho de Alex e Sara. Rico tem uma mansão no bairro e um sobrenome imponente.

Por isso não tenho permissão de escrevê-lo. Caso isso aconteça pagarei uma multa gigantesca.

Minha mãe trabalhou na casa deles como ajudante/enfermeira por algum tempo quando Sara sofria uma doença degenerativa.

Sara morreu.

Hoje cuida de um senhor/morte.

Hora dos remédios.

Morfina.

Fraldas geriátricas.

Viagra.

O velhote tem um gosto especial por prostitutas com ar infantil.

Minha mãe fofoca com rolinho em casa.

Nem esse velhote quer comê-la.

Triste.

Conheci Alberto ao frequentar sua casa, contudo ele vivia na minha. Brincávamos sem perceber a diferença entre o carrinho de plástico e a limusine carrossel duas portas ao qual ele passeava. Crianças inocentes que arrancavam as cabeças dos bonecos do exército para desespero de vovô Ademias.

Vodu.

Magia haitiana.

Filipina.

Vietnã.

Ele nunca esteve nesses lugares, porém sua cabeça ruim nunca o colocou no lugar certo.

Por duas vezes ele veio visitar o neto.

Parou.

Por que esqueceu que havia um.

Karol e Alberto foram colocados num altar pelo estúpido cupido gordo que a trocou por balas, doces, festas e amizades de plástico.

Al numa primavera nos trouxe todo o prazer da cocaína descoberta com um amigo do seu pai numa poltrona sexta feira com bolso cheio de sacoles/morro. Questão de tempo Jonas entrou no grupo, sua coragem para esquemas, suas ideias completavam tudo.

Ele arranjou um jeito de termos sempre em mãos o pó.

Já que o amigo do pai morreu alguns meses depois num roubo a banco.

_ Onde está Alberto?

Tentei manter a calma diante daquelas pernas e uma suposta surpresa pela minha presença ali em vez de seu namorado.

Aqui começa o enigma.

__ Al mandou-me buscar lhe por causa de uma festa ocorrendo na casa dele. Jonas também se encontra lá.

_Alberto falou algo com você?

_ Não, nada demais.

A indiferença brotava dela sem muito razão aparente visto que não nos víamos fazia uma semana e que a ultima vez fora a melhor noite da minha vida e possivelmente da dela.

Contudo tenha calma.

K-rol.

Decifre-me ou devoro-te.

Thiago Mendes é o autor do conteúdo deste material, do qual você está livre para copiar, queimar ou enfiar em qualquer lugar…Claro, não esqueça de dar crédito ao autor.

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Plaz Mendes

“O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma culpa como nos fez crer a religião. O corpo é uma festa.” Eduardo Galeano. cmendesthiago@gmail.com