Round 7 ou como a vida não imita a arte.

Plaz Mendes
3 min readFeb 4, 2022

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Arte: Reprodução/ Twitter

No help still

No help still

King Krule — Emergency blimp

Em 2021 estreou a série “Round 6” na Netflix (Squid Game) ou numa tradução do coreano: o jogo da lula. O programa foi aclamado por críticos e público ao envolver questionamentos sociais, riqueza e pobreza tudo isso misturado a um game mortal de jogos infantis.

No final da primeira temporada depois de um “plot twist” do programa o antagonista mostra, ao personagem principal: um homem na rua , sem teto, que provavelmente vai congelar devido ao frio que faz.

Ele diz: você ajudaria aquele lixo humano fedorento ?

Jogue outra vez comigo!

Se aquele homem continuar lá até meia noite o antagonista ganha. Se alguém ajudar ele antes disso o protagonista vence.

É mostrado o homem na rua congelando enquanto as pessoas passam com indiferença.

A frieza das pessoas e do tempo.

https://observatoriodocinema.uol.com.br/

No dia 19 de janeiro deste ano o fotógrafo suíço René Robert, 84 anos , morreu de hipotermia grave. O diferencial desse caso, para muitos, é que o fotógrafo era um artista reconhecido e não um sem teto que habitualmente sofre desse mal. Robert, possivelmente passou mal e ficou ali estirado no chão por volta de 9 horas até os bombeiros o resgatarem sem vida.

Uma das fotos de René Robert

No dia 24 de janeiro um congolês chamado Moïse Kabagambe, de 24 anos, foi espancado até a morte num quiosque na Barra da Tijuca, o homem havia ido cobrar uma dívida de trabalho e foi morto ao menos por 30 pauladas executadas por três homens. Havia testemunhas por perto, mas ninguém fez nada.

Moïse Kabagambe

Há um pensamento de que a vida imita a arte, mas nesse caso apenas na arte o homem foi salvo. No fim de “Round 6” o homem congelando na rua é salvo pela polícia. Bem diferente do fotógrafo, esquecido em meio á indiferença das pessoas, e ao jovem congolês, espancado num claro caso de racismo. Indiferença, racismo, desumanidade. No jogo da humanidade estamos perdendo todos os rounds e o que assusta é quantos ainda podemos aguentar. Kabagambe não resistiu ao ódio. Robert não resistiu a apatia.

Será que resistiremos?

Justiça para Moïse Kabagambe !

Autor: Plaz Mendes

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Plaz Mendes

“O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma culpa como nos fez crer a religião. O corpo é uma festa.” Eduardo Galeano. cmendesthiago@gmail.com