Um Nosferatu no Rio #2

Plaz Mendes
3 min readNov 26, 2020

--

Vampiro

Segure nave louca
Que eu sou pedra rolando
Que esta despencando
Em precipício propicio
Pra esse movimento de agora
Esse monumento ao momento
Monumento de hospício (Pedro Luis e a parede, Navilouca)

A Marginália como uma flor maldita que floresce em meio ao turbilhão social-econômico e politico que assola o Brasil a partir de 1968. Maldita por que a rosa de jerico espera um terreno fértil para crescer novamente. Os estudantes do mundo saíram as ruas 68. O moralismo precisa ser combatido, com dentes e sangue. Seja marginal, seja herói.

Literatura, cinema, teatro, artes plásticas, jornalismo e poesia, o terreno foi fértil para inúmeras obras e pessoas que ativamente botaram o caldo da geleia geral pra mexer. E fazer um batuque. Para alguns um desbunde.

E nesse redemoinho cultural um vampiro aporta nas praias cariocas. Usando sandálias e uma capa preta. Com fome antropofágica ele devorava tudo o que via pele frente. Ate a menina dos olhos. Nosferatu que nas sombras persegue os poetas e jornalistas, pelas calçadas fluminenses. Notívagos que escrevem com a disciplina bukowskiana e perdem seus poemas entre goles de chopp e cinzas de cigarro. Vampiro mais humano do que muito mano nessas praias.

Os Nosferatu, como eles chamam a si mesmos por brincadeira, são os mais humanos dos Membros, vestindo sua maldição do lado de fora e não do lado de dentro. Para se misturarem, alguns clamam ao sangue para usar os rostos emprestados de suas vítimas ou desaparecer de vista, enquanto outros confiam em próteses e maquiagem pesada. [1]

Nosferatu que brinca com a maldição e que nos brinda com sua arte. Vampiro que veio do século XIX em Budapeste e aportou nas praias cariocas. Não nos perdemos nesse caminho. Onde se vê dia, veja-se noite. E como vampiro sabe: sem sangue não se faz história

Há um pássaro azul em meu peito que quer sair mas sou bastante esperto, deixo que ele saia somente em algumas noites quando todos estão dormindo. eu digo, sei que você está aí, então não fique triste. depois o coloco de volta em seu lugar, mas ele ainda canta um pouquinho lá dentro, não deixo que morra completamente e nós dormimos juntos assim com nosso pacto secreto e isto é bom o suficiente para fazer um homem chorar, mas eu não choro, e você? (BUKOWSKI)

Antropofagia brasileira Oswaldiana. Segue o corpo que agora é comido em ritual funesto. O pai partiu, a mãe chora e o filho come. Vendemos nossos braços e pernas para uma experiência de primeira grandeza. Antropofágico. Servir e comer. Como a serpente que se delicia com seu rabo. Círculos. Estamos atentos a roda do bom senso. Não seremos agentes do futuro encarnado. Se batermos na trave é porque a história tem suas curvas, artes, corujas empertigadas se movem como sombras nos arbustos espinhosos. Será possível um golpe aqui. Será preciso um ato institucional? Números da loteria. Cinco. Circunscreve o destino de muitos. Caetano e Gil vão para Londres.

A repressão tem muitos braços e muitas pernas. Ela avança pelo Brasil enquanto outros dormem no sofá da UNE. Com fogo será combatido com fogo. O herói brasileiro anda de muletas. Abaixo o libertário. Abaixo as madeixas. Cabelo grande é bandeira e estandarte do não conformismo, não sejamos franceses. Atiremos pedras, tijolos e frutas. Um corpo morre. Um caixão se movimenta. Edson? Morreu, jaz, aqui, ali, no redemoinho do tempo.

[1] In: http://rageacrossbr.blogspot.com/2018/08/horrores-o-cla-oculto-ratos-de-esgoto.html

Plaz Mendes

Nosferatu no Rio#1

https://medium.com/@plazmendes/um-nosferatu-no-rio-1-28bc0da30ed2

--

--

Plaz Mendes

“O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma culpa como nos fez crer a religião. O corpo é uma festa.” Eduardo Galeano. cmendesthiago@gmail.com